O PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES
O PEDAGOGO EM
ESPAÇOS NÃO ESCOLARES
Laura Andréa de
Souza Prado e Silva
Acompanhando as mudanças econômicas e sociais que vem
ocorrendo nos últimos anos, verificamos o crescente aparecimento de espaços
educacionais não formais que abrem para o Pedagogo novas oportunidades de
trabalho.
Deste
modo, atividades educativas intencionais, com objetivos e planejamentos
pré-definidos, aparecem não só nos espaços escolares formais, mas também em
outras instituições sociais: nas empresas, hospitais, ong’s, meios de
comunicação de massa, sindicatos, orfanatos etc..
A
ação educativa está presente em todos os setores de nossa sociedade, e desta
forma se confirma o caráter de “formadora de força de trabalho”, previsto
inclusive em nossa Constituição Federal:
Art. 205 “A educação, direito de todos
e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração
da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Segundo
o filósofo húngaro István Mészáros, o capital é “... estrutura”
totalizadora” de controle à qual tudo o mais, inclusive os seres humanos, deve
se ajustar, e assim provar sua “viabilidade produtiva”, ou perecer, caso não
consiga se adaptar.” (2002:96). Portanto, graças a esta estrutura
totalizadora, vemos o capitalismo afirmando sua supremacia perante a produção
de conhecimentos, por exemplo, e para a perfeita manutenção do capitalismo, há
a estreita participação da educação “ajustando” os indivíduos para o trabalho.
Neste
contexto, o Pedagogo, a princípio, aparece apenas como reforçador da hegemonia
do capital, mas, graças a sua formação ampliada na área das ciências humanas,
ele exerce uma grande força contrária a este caráter opressor capitalista. É o
Pedagogo que, através de conceitos libertadores, pode estimular o trabalhador
ou o aluno a realizar sempre uma reflexão crítica acerca da realidade. Paulo
Freire, em “Pedagogia do Oprimido”, reforça uma educação problematizadora e
reflexiva, indispensável para o cuidado
da realidade e é esta, a nosso ver, a educação que o Pedagogo deve contemplar.
Os
espaços não escolares estão previstos
como possibilidades de atuação profissional nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para o curso de Pedagogia, mostrando que não se trata de “impressões
particulares” sobre o tema, mas, ao contrário, algo legitimado legalmente.
Para
exemplificar alguns destes espaços não escolares, vejamos o que diz Libâneo:
“...Há práticas pedagógicas nos jornais, nas rádios, na produção de material
informativo, tais como livros didáticos e paradidáticos, enciclopédias, guias
de turismo, mapas, vídeos, revistas; na criação e elaboração de jogos,
brinquedos; nas empresas, há atividades de supervisão do trabalho, orientação
de estagiários, formação profissional em serviço. As empresas reconhecem a
necessidade de formação geral como requisito para enfrentamento da
intelectualização do processo produtivo;”,”...há profissionais que exercem
sistematicamente atividades pedagógicas e os que ocupam parte de seu tempo
nessas atividades: formadores, animadores, instrutores, organizadores,
técnicos,consultores, orientadores...” (LIBÂNEO. 2001:153 -176) .
Uma
pesquisa denominada “O Perfil do Pedagogo que Atua em Espaços Não Escolares”,
fez parte de uma linha de pesquisas sobre Gestão Educacional e Educação
Profissional do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas –
UniFMU, durante os anos de 2004 e 2005. Destaca-se um trecho sobre a conclusão
desta pesquisa, coordenada pela professora Dra. Mary Rosane Ceroni:
“Do estudo desenvolvido,
identificamos indicadores para o perfil do pedagogo para atuação em espaços não
escolares. ...flexibilidade em suas ações; conhecimento e experiências
relativos à gestão participativa; competência e habilidade na busca de soluções
para os impasses enfrentados, com compreensão do processo histórico, social,
administrativo e operacional em que está inserido; comprometimento e
envolvimento com o trabalho; ter preparo para administrar conflitos; zelar pelo
bom relacionamento interpessoal; gostar de trabalhar com pessoas; comunicação
eficaz; conhecimento de princípios de educação popular; ter competência e
habilidade para planejar, organizar, liderar, monitorar, empreender.”
A
seguir, alguns espaços onde são realizadas atividades educacionais, mas que não
fazem parte do espaço escolar formal e a atuação do pedagogo nestes espaços:
1. CLASSE HOSPITALAR: os
primeiros passos da Classe Hospitalar do Hospital das Clínicas foram dados em
meados de 1970, com a iniciativa da assistente social Silvana Mariniello. Nessa
época, as aulas para as crianças eram ministradas por estagiárias do curso de
Magistério, e para os adultos, pelo Mobral. Este padrão se manteve até a década
de 90. Silvana Mariniello apresentou ao Ministério da Educação diversos
projetos para a regularização da classe hospitalar sem sucesso e as aulas
prosseguiam sem ritmo constante e não atendiam a todas as crianças. Em 1997, o
Serviço Social de Assistência a Pacientes Internados e o Departamento de
Pediatria da faculdade de Medicina entraram com pedido de criação do projeto
Classe hospitalar nos moldes atuais. A Secretaria da Educação tem a incumbência
de fornecer Pedagogos, e realizar a qualidade e o controle da qualidade de
ensino. Existe no Hospital das Clínicas uma fundação de Apoio ao Ensino
Pesquisa e Assistência – FAEPA e organizações não governamentais como a Liga de
Assistência aos Pacientes – LAP, o centro de voluntariado, o Grupo Espírita e
os Doutores da Alegria. O trabalho dos pedagogos é integrado aos das outras
equipes, e também há a integração com a Biblioteca Viva e a Oficina do Conto.
O
hospital recebeu em 2002 o Prêmio de Qualidade Hospitalar do Ministério da
Saúde, com o certificado de Hospital Amigo da criança concedido pela UNICEF.
Há
um grande comprometimento da equipe médica com a educação, inclusive pela
observação sobre o braço que recebe a injeção não ser o mesmo que a criança usa
para escrever. Além disso, os médicos procuram agendar exames e procedimentos
fora do horário das aulas.
2. TERCEIRO SETOR: é composto por instituições sem fins
lucrativos e não governamentais, que geram serviços de caráter público. Com a
aparente falência do Estado (1º Setor), o setor privado (2º Setor) passa a
ajudar nas questões sociais, dando origem ao 3º Setor.
A
maior expressão de 3º setor em nossa sociedade é a Organização Não
Governamental.
Segundo
Miguel Darcy de Oliveira, a ONG, no Brasil, é uma palavra que veio a ser
utilizada nos anos 80 para caracterizar determinadas entidades de assessoria e
apoio ou a serviço dos grupos e movimentos populares enfatizando o envolvimento
direto da população no enfrentamento dos problemas e carências que afetam a
vida quotidiana e reivindicando direitos dos mais diferentes grupos sociais.
Por outro lado, com a promulgação da anistia em 1979, retornam ao país exilados
políticos, vários dos quais inspiram a criação de ONGs. A experiência do exílio
expôs personagens que se tornarão emblemáticos do mundo das ONGs nos anos 80 e
90, como Herbert de Souza (Betinho), Rosiska Darcy de Oliveira e Rubem César
Fernandes, e a novos temas e preocupações que vão, naturalmente, ganhar
destaque na agenda de ONGs como: direitos humanos, direitos das mulheres,
defesa do meio ambiente, as questões da violência e marginalidade urbana, revalorização
da religiosidade tradicional e principalmente a Educação.
A
partir da década de 90, aprofunda-se a atuação das organizações
não-governamentais na esfera educacional. A legitimação da entrada das ONGs na
educação brasileira ocorre a partir da Lei n. 9.394/1996, que fixou as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (CURY(1998); 32 SAVIANI (1997); 33 O
artigo primeiro dessa Lei explicita que a educação abrange processos formativos
ocorridos em diferentes lugares, inclusive nos movimentos sociais e nas
organizações da sociedade civil.
As
Organizações Não Governamentais (ONGs) são regidas pela Lei nº 9790 de 23 de
março de 1999, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público, institui e disciplina o Termo de Parceria e dá outras providências.
Art.
3º a qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o
princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das
Organizações, somente será conferida ás pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das
seguintes finalidades:
I
– promoção da assistência social
II
– promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e
artístico;
III
- promoção gratuita da educação, observando-se de forma complementar de
participação das organizações de que trata esta Lei.
O
Pedagogo nestes espaços elabora projetos educativos, planeja ações da
organização, presta apoio pedagógico, além de atuar como professor em
organizações que mantém escolas em suas dependências.
3. EDUCAÇÃO CORPORATIVA : a educação corporativa é uma resposta à
carência de profissionais que atendam as demandas e necessidades de uma realidade
em constante transformação. Compreende uma filosofia destinada a identificar e
aperfeiçoar as competências necessárias para o sucesso de uma organização.
O
modelo mais eficaz e comum de educação corporativa é a Universidade
Corporativa, em que as empresas montam verdadeiras instituições de ensino que
se preocupam não só com o treinamento específico da profissão desempenhada, mas
também com a educação de forma mais ampliada. Elas oferecem desde cursos de
alfabetização até cursos de graduação presenciais ou on line.
Apesar
da Lei no. 9394/96, em seus artigos 39, 40, 41 e 42, trata da educação profissional e
da certificação, permitindo o reconhecimento da competência desenvolvida no
trabalho e mesmo do decreto no. 5.840, artigo 7º (2006), relacionado à educação
de jovens e adultos, em que "ofertastes de cursos e programas do PROEJA
poderão aferir e reconhecer, mediante avaliação individual, conhecimentos e habilidades
obtidas em processos formativos extracurriculares", a certificação do
trabalhador ainda está restrita ao espaço escolar formal, e, por este motivo,
as universidades corporativas precisam estar vinculadas a alguma Universidade
reconhecida.
Nas
Universidades Corporativas, o Pedagogo avalia os cursos, profissionais, escolhe
a grade curricular que melhor se adapte à empresa, além de assumir a direção,
coordenação e administração destas unidades
4. RECURSOS HUMANOS: os
primeiros departamentos de recursos humanos surgiram nos Estados Unidos no início
do século XX. No Brasil em 1930. Durante
anos, tratavam apenas dos assuntos relacionados à legislação das contratações e
direitos dos funcionários. No momento em que a mão de obra precisou estar mais
qualificada, passaram a preocupar-se também com o treinamento e qualificação
dos funcionários.
Nos
dias atuais, uma preocupação não só com treinamento, mas treinamento aliado a
educação. Mantendo uma coerência entre a cultura da empresa e princípios
pedagógicos, pode-se garantir o sucesso no mercado.
O
Pedagogo na área de Recursos Humanos das empresas coordena projetos
educacionais, elabora programas de avaliação de desempenho, pesquisa, analisa e
seleciona cursos e projetos a serem adotados pelas empresas. Oferece
treinamento aos funcionários, com a finalidade de aumentar a produtividade.
Além
disso, muitas empresas de Recrutamento e Seleção têm contado com os serviços
dos Pedagogos que são responsáveis pela triagem dos candidatos, entrevistas,
elaboração de material didático, aplicação de testes para seleção de pessoal,
tarefas anteriormente destinadas apenas aos psicólogos.
5. EDITORAS:
onde o Pedagogo desenvolve projetos
pedagógicos e estratégias de divulgação de livros, CDs, revista e vídeos, é
responsável pelo departamento de divulgação da editora e atuam como editores de
livros infantis.
6. SINDICATOS
contratam Pedagogos para ministrar cursos, elaborar projetos e planejamentos
sobre as ações da organização. Nos Órgãos Judiciários, o Pedagogo atua nas
varas da Infância e adolescência integrando equipes psicossociais. Nas
EMISSORAS de TV e Rádio, o Pedagogo é responsável pela área de Difusão
Cultural, elaboração de mensagens educativas sobre variados temas tais como:
educação ambiental, AIDS, drogas, saúde etc. além de análise da programação
infantil.
Este texto foi editado em
08/03/2011 para atender as necessidades de uso didático.
Acesso em 08.03.2011]
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